Em 2023 registei no meu diário gráfico um pouco da da paisagem da Ilha Dourada ou como é conhecida a Ilha de Porto Santo. É um sitio muito especial onde desejo voltar, também para desenhar as suas rochas.
No verão, tenho o hábito de desenhar no meu diário gráfico rochas nas praias onde vou. Nestes desenhos registei as rochas da Praia de Porto Novo no Vimeiro, em Julho de 2019.
A Praia da Adraga é das minhas favoritas, por ser serra-mar bravo. Quando os meus sobrinhos eram pequenos dizia-lhes que era a praia dos piratas, onde havia um tesouro escondido. As suas rochas sempre me impressionaram. Este mês andei nos ares de Sintra a apanhar banhos de nevoeiro, para variar, ou como diria o meu pai, estive onde o Inverno passa as férias de Verão. E desenhei as suas rochas.
Como referi no prefácio do meu livro ‘A Casa das Musas’(2024), o livro resultou de uma interpretação visual de nove micro-ficções, escritas para comemorar o dia e noite dos Museus. Com a sua leitura participei numa sessão realizada a 15 de Maio de 2010, organizada por Pedro Sena-Lino na Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves em Lisboa. Na altura, postei as ficções no meu antigo blog, mas apenas comecei a fazer desenhos a partir delas em 2016. Entretanto, na altura não dei continuidade porque entrei na recta final do doutoramento. Retomei este projecto no verão de 2022, com a série de desenhos a grafite tamanho A4. Em simultâneo, também realizei pequenas pinturas em papel baseadas nos desenhos. De algum modo, ambos funcionaram como estudos para construir o livro, uma vez que ia encaixando os espaços inventados numa sequência visual narrativa. Durante a pandemia pintei sobretudo em tela a série ‘Panorâmicas’ (2020-2022), que terminou com um conjunto de ‘Vanitas’ (2022). Senti depois necessidade de trabalhar em papel e procurei algo mais solar e menos abismal. Vou continuar esta série porque sinto-me mais livre a trabalhar em papel do que em tela.
A revista Big Ode foi uma grande aventura do Rodrigo Miragaia partilhada também com a Sara Rocio , amigos do coração e artistas que muito admiro. Tenho excelentes memórias desta aventura. Sendo uma revista de poesia e imagem, apresentou diálogos e cruzamentos de várias expressões artísticas em formatos variáveis, e nesse sentido marcou uma diferença nas publicações do início do século XXI no nosso país. A revista surgiu num período em que os blogs estavam em alta e nas suas páginas estrearam-se blogers que mais tarde publicaram livros de poesia ou criaram editoras independentes, aparecendo ao lado de poetas e artistas mais experientes, mas sempre com um espírito experimental. Este exemplar de estreia era em tamanho A3 e os que se seguiram nunca repetiram este formato.
No ano de 1997, desenvolvi a anterior série de desenhos realizados após leitura do livro de Italo Calvino, também intitulada de ‘As cidades invisíveis’. A estes desenhos atribuindo-lhes um carácter caligráfico. A ideia foi criar uma escrita arqueológica funcionando como um rastro de cidades desaparecidas no tempo, num passado longínquo do qual restavam estes registos enigmáticos. Nesse sentido, a leitura das ‘Ficções’ de Jorge Luís Borges também me estimularam a imaginação. Os desenhos originanaram um conjunto de terracotas, feitas numa estadia num telheiro em Montemor-o-Novo, possíveis devido às Oficinas do Convento da professora Virgínia Frois, projecto que na altura estava ainda no início. Foi uma belíssima experiência artística e muito intensa em termos humanos. As esculturas estiveram expostas no I Simpósio de Escultura em Terracota, Oficinas do Convento, Montemor-o-Novo.
Iniciei a série ‘As Cidades Invisíveis’ com um conjunto de desenhos realizados no verão de 1996, após a leitura do livro de Italo Calvino. Os desenhos originaram esculturas em poliéster e aço inox, construídas no ano seguinte no curso de escultura na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa.
‘Jogo de sentidos’ (1995) é um pequeno livro onde fui apontando ideias a construir quando frequentava o curso de escultura, no período em que o tema do jogo era central no meu trabalho. Recentemente, consegui restaurá-lo, o que implicou cozer e colar as páginas de novo, estava muito degradado.
Em 1994, antes da minha estadia de seis meses no NSCAD em Halifax (Canadá), construi um livro de artista com textos-visuais labirínticos, onde as palavras foram compostas por módulos com duas letras encaixadas, ou seja, usando o mesmo sistema de anteriores quebra-cabeças, mas utilizando a transparência das folhas do livro, com páginas em papel vegetal. Estes dois filmes a partir do livro foram realizados por Sofia Cavalheiro em Julho de 2023.