Ontem revi um documentário sobre Almada Negreiros na RTPM, onde em entrevista citava e bem Delacroix: ‘O novo existe e pode mesmo dizer-se que é precisamente tudo o que há de mais antigo”
De volta à escrita a invadir as ruas da cidade às voltas, onde as casas se constroem no tempo, encaixadas em palavras pedras nas calçadas em direção ao templo centro no largo das portas da fonte descentrada; descentrada a cidade alberga uma confusão de vozes que se funde no metal de um livro sempre aberto. No metal a cidade labiríntica foi suspensa no tempo numa escrita de ruas ao entardecer; ao entardecer as letras transformam-se nas casas das palavras que encaixam nas veias da cidade, em ruas que caem no chão dos meus passos aqui; os meus passos fundem-se no espaço das vozes que habitam as escritas da cidade, quando o sol mergulha em sangue; em sangue escrevi palavras pedras de água nas ruas estreitas onde as perdi e não as aguentava ler. Rasguei-as. Rasguei a muralha ao centro, estrada romana por baixo do arco porta, resta uma única porta sorte. Tu estavas fora delas no centro também, largo das portas da fonte; outras portas, outro centro em torno das minhas muralhas às voltas. Já não aguento as palavras a ressoarem na cabeça, a circularem. Rasgo o tempo silencioso das pedras a circulam nas páginas em redor do templo que me escorrega nos dedos com a forma de uma cadeira vazia ao luar. No luar a água corre na água no largo das portas da fonte derredor da escrita a invadir as ruas estreias.