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Babilónias 2007

Conjunto de textos-visuais em  relevo com dimensões variáveis, gesso e folha de ouro, que datam de 2000-2003. Estiveram expostos na Sala Deleuze, na inauguração da Fábrica de Braço de Prata em Junho de 2007. Infelizmente, não tenho fotografia da exposição.  Na exposição  estiveram acompanhadas   do seguinte texto: 

[ descomeçar – a escultura de Maria João Lopes Fernandes]

              entre o som e a forma, o sentido. música de si mesma desconhecida, que nasce da sede, da inquietação das raízes – e se constrói, traço a traço, sobre a realidade.

              descreve o seu percurso as coisas, corpos, derrames, impermanências, até se tornar a substância do tempo, a pele da duração. a sequência desenho a desenho, que chega ao sentido, corporiza-se, e procura a origem.

              a escultura de Maria João Lopes Fernandes é música. sequência entre a forma de símbolos de sons, de cosmogonias que se descomeçam, montanhas que procuram em sede a chegada, alfabetos de palavras e línguas antes do som e da forma. música, estruturas que pedem um intérprete, que lhes ordene a forma para chegar ao som.

              prosseguindo um solitário trabalho, entre a interpretação desconstrutora do Experimentalismo e a busca interior da raiz, natureza e possibilidades da forma, encontra-se num lugar silencioso nas artes plásticas em Portugal. um lugar que o tempo revelará na sua perturbadora inquietude, coerência e incessante procura. um lugar em movimento, música de si mesma.

Pedro Sena-Lino

Salgados, Junho de 2007

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Naturezas-Mortas Sociais 2014

Em 2014, dei continuidade às narrativas visuais da série ‘Naturezas-Mortas Sociais’ iniciada em 2012, utilizando também a colagem de modo a associar elementos nas composições pictóricas, mas ampliando a escala e utilizando telas como suporte. Nesse ano apresentei algumas destas colagens na Livraria Miguel de Carvalho em Coimbra e na Galeria Cossoul em Lisboa. Na exposição da Cossoul estiveram acompanhadas do seguinte texto do meu  compagnon de route Nuno Esteves da Silva:

Não vou falar do evidente prazer de fazer que se manifesta nestas pinturas. Nem do prazer de ver que poderá resultar da nossa relação com elas. Trata-se aqui muito mais de matéria do que de virtuosismo, mas não é disso também que quero falar. Essas são dimensões que se poderão manifestar directamente a quem puder olhar. Quero falar de uma outra dimensão que estas pinturas contêm, mas que, em virtude da sua natureza, terá talvez mais dificuldade em se manifestar tão directamente. A Maria João Lopes Fernandes chama a estas suas pinturas «naturezas-mortas sociais». Sabemos que esta expressão, «naturezas-mortas sociais», a pediu emprestada ao nosso amigo Daniel Falb, que é alemão, poeta e filósofo. Cada um poderá interpretar a seu modo o porquê desta designação e o que dela se manifestará nas próprias pinturas. Não serei eu a dar a explicação correcta. Quero, ao invés disso, pensar algumas dificuldades que a sua interpretação suscita.

A própria expressão pode ser encarada como uma brincadeira ou um daqueles paradoxos que Unamuno disse ter passado a vida a criar. Mas tentaremos ver aqui mais que um jogo. E os paradoxos exprimem muitas vezes um sentido que transborda do mero paradoxo. Neste caso o paradoxo consistiria na coincidência da natureza-morta com o social.  Expliquemo-nos: poderíamos conceber uma «natureza-morta social» na qual se misturassem, no meio de frutas e legumes, objectos que manifestassem um estatuto social; mas não é de nada disso que se trata. Nesse caso continuaríamos a ter naturezas-mortas, mas com um certo pendor social. Pelo contrário, o que parece acontecer é a justaposição, num mesmo plano, de dois pontos de vista sobre o real, antagónicos e mutuamente exclusivos: a natureza-morta e o social. E, num primeiro nível, isso acontece da forma mais evidente, ou seja, pela justaposição de pequenos almoços com manifestações e a polícia de choque. O que se passa então?

Para além da justaposição das imagens temos a justaposição de códigos e géneros. E, consequentemente, de atitudes. Nada talvez mais afastado do que, de um lado, a atitude do esteta que disseca a beleza contida nas formas puras dos vegetais e mesmo de animais mortos; e, do outro, a atitude do activista que denuncia as injustiças arrastadas pela impiedosa marcha da sociedade. Ora se a cada uma dessas atitudes, isoladamente, poucas objecções surgirão, de facto, no nosso mundo democrático, já a sua sobreposição é (podemos facilmente imaginá-lo) passível de produzir algum escândalo. É que – dirão alguns – «não se brinca com coisas sérias». E não se mistura o sofrimento com croissants e compotas. Mas, saindo do discurso censório e proibicionista, temos de perguntar, antes, quem fala neste paradoxo e o que quer dizer? Que verdade se exprime aqui? Talvez, para responder a essas perguntas, tenhamos de começar por perguntar que procura de verdade habitava esses lugares aparentemente incompatíveis, a natureza-morta e o social? Enquanto lugares de produção de verdade, alguma relação se deve estabelecer entre eles, que legitimamente podemos pensar ser captada e dar sentido ao discurso destas pinturas. Tentando ser o mais breves e rigorosos possível, podemos dizer que, na natureza-morta, temos um olhar que, desviando-se do movimento do mundo, se fixa em alguns objectos transitoriamente abandonados, procurando reconhecer neles a forma pura, vazia de conteúdo, do tempo. E, no social, temos um olhar que procura reconhecer o movimento imparável, a instabilidade, daquilo que, provavelmente na maioria das sociedades, sempre foi encarado como mais estático e imutável, quando nunca o foi de facto: a organização social; as instituições. Mas é tempo de devolver a pintura ao olhar. Deixemos apenas uma última observação: talvez na relação que aqui se estabelece entre a natureza-morta e o social o paradoxo se transforme em alegoria.

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Naturezas-Mortas Sociais 2012-2013

Apelidei de ‘Narrativas visuais’ um conjunto de pinturas  pinturas figurativas iniciadas em 2012, que as sugerem de forma ambigua, através da associação de elementos dispares e imprevissiveis. Inicia com algumas colagens da série ‘Naturezas-Mortas Sociais’ (2012-2013), colagens pintadas a acrílico sobre papel com 42x30cm cada. Aqui podem ver mais naturezas-mortas sociais e  aqui podem ler o que fui escrevendo sobre as mesmas.

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Babilónias 2000-2003

Após terminar o curso de escultura nas Belas-Artes de Lisboa em 1999, realizei durante o período de 2000-2003 uma série de esculturas em gesso com patine em folha de ouro, compostas por textos visuais semelhantes aos que tinha modelado em 1996-1997. Muitas destas esculturas encontram-se espalhadas em casa de amigos e familiares.  Recentemente restaurei as que ainda coabitam comigo. As ‘Babilónias’ foram expostas numa parede da Sala Deleuze, na inauguração da Fábrica de Braço-de-Prata em 2007, mas infelizmente não tenho nenhum registo fotográfico. As fotografias que aqui mostro são após o restauro das peças este verão. 

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Babilónia 1997

No verão de 1997, durante a minha estadia nas Oficinas do Convento em Montemor-o-Novo, a fazer esculturas em terracota num telheiro, modelei em barro um relevo construído com textos visuais labirínticos, semelhante a uma maquete de cidade com ruas de escrita. Tenho poucas fotografias deste relevo, lembro-me que tive de o fragmentar para ir ao forno e depois não consegui montar o puzzle. Na exposição do I Simpósio de Escultura em Terracota, nas Oficinas do Convento, apresentei os fragmentos do relevo numa parede, estiveram expostos com as esculturas da série ‘As Cidades Invisíveis’, mas infelizmente, as fotografias não têm grande qualidade.