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Apontamentos #5

Livros objeto em madeira, várias dimensões.

O livro-objeto e o livro de artista com múltiplos não são antagónicos, como certos autores nos querem fazer acreditar. É possível fazer múltiplos de livros com carácter escultórico. O que não faltam são edições fac-similadas de livros artista, que inicialmente eram exemplares únicos. Quanto à escultura, na antiga Grécia já se cunhavam moedas. Como acham que existem tantos Pensadores de Rodin nos Museus? O livro objeto pode ser industrializado e reproduzido. O Kiefer faz livros-monumento com carácter único, entende-se que sejam assim. O facto de alguns autores apresentarem o antagonismo entre o livro de artista editado em pequena edição e o livro exemplar único, dos quais o livro-objeto representa o extremo, relaciona-se a meu ver, com a institucionalização do livro de artista no século XXI, com critérios de compra nas coleções. É mais barato comprar um múltiplo que um exemplar único. Não consigo imaginar o preço de um livro-monumento de Anselm Kiefer. Prefiro olhar o panorama do livro de artista desde os livros ilustrados até ao livro-objeto com carácter escultórico, com todas as cores, odores e texturas que existem neste campo alargado e criativo, sem espartilhos, caixinhas inúteis e preconceitos. O livro de artista é vário.

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Poemas #5

Tríptico babilónico, pastel sanguínea e sépia sobre papel, 3x(70x50)cm.
CORREDORES
 
O sangue corre no sangue que corre, queimando as veias labirínticas das ruas no coração da cidade. Cheira a chuva de Setembro molhado na planície. Um cruzamento áspero de ossos com um aglomerado de pedras acompanha o som dos meus passos na noite. A chuva cai e escorrega nas pedras molhadas do meu chão, nas calçadas estreitas. No escuro, oiço os teus passos nas arcadas nocturnas, esbatendo-se ao longe: são apenas eco; apenas som em ricochete dos meus pés que voltam atrás em palavras passos. Cheira a terra molhada de Setembro nestas pedras escuras das ruas estreitas. O sangue corre no tempo das veias labirínticas da cidade no coração da noite a chover. As pedras têm um timbre a ferrugem nas suas vozes. Em vale de corvos, um anjo voou apenas com uma asa, a outra caiu em terra. Foi o seu último desejo aqui em forma de lápide de ferro. As minhas mãos são a tua asa, elas escrevem em passos no coração da noite. Grito às cinzas no vento destas ruas, quero ver o mar, cheira-me a Inverno neste amarelo às voltas. Vi o teu mar ao longe, numa seara de corvos negros: era a planície amarela. Em vale de corvos a terra é ferro quando a chuva cai. Onde estou eu que tu não estás?
Corro no tempo que corre como a água a cair nas ruas estreitas da cidade. Os nossos passos estão agora nos meus passos percorrendo estas calçadas de pedra na cidade branca das muralhas; são apenas eco, o som em ricochete das palavras que caem das minhas mãos; calçada com voz de água que corre no tempo que corre na água. Cheira a terra molhada na planície amarela com a terra cor de ferro em Setembro. O sangue corre no sangue que corre no coração das ruas estreitas da cidade onde te digo: estás nas minhas mãos sempre que parto pedra nas palavras que escrevo aqui.
 
 
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Apontamentos #4

Ontem revi um documentário sobre Almada Negreiros na RTPM, onde em entrevista citava e bem Delacroix: ‘O novo existe e pode mesmo dizer-se que é precisamente tudo o que há de mais antigo”

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Poemas #4

Work in progress : após várias tentativas, a sanguínea cresce, com sepia em zonas de sombra, o actual sfumatto antigo.

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Poemas #3

ÀS VOLTAS
 
De volta à escrita a invadir as ruas da cidade às voltas, onde as casas se constroem no tempo, encaixadas em palavras pedras nas calçadas em direção ao templo centro no largo das portas da fonte descentrada; descentrada a cidade alberga uma confusão de vozes que se funde no metal de um livro sempre aberto. No metal a cidade labiríntica foi suspensa no tempo numa escrita de ruas ao entardecer; ao entardecer as letras transformam-se nas casas das palavras que encaixam nas veias da cidade, em ruas que caem no chão dos meus passos aqui; os meus passos fundem-se no espaço das vozes que habitam as escritas da cidade, quando o sol mergulha em sangue; em sangue escrevi palavras pedras de água nas ruas estreitas onde as perdi e não as aguentava ler. Rasguei-as. Rasguei a muralha ao centro, estrada romana por baixo do arco porta, resta uma única porta sorte. Tu estavas fora delas no centro também, largo das portas da fonte; outras portas, outro centro em torno das minhas muralhas às voltas. Já não aguento as palavras a ressoarem na cabeça, a circularem. Rasgo o tempo silencioso das pedras a circulam nas páginas em redor do templo que me escorrega nos dedos com a forma de uma cadeira vazia ao luar. No luar a água corre na água no largo das portas da fonte derredor da escrita a invadir as ruas estreias.