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‘Geppetto’, pinturas de João Queiroz

Exposição na galeria Miguel Nabinho, Janeiro de 2024

18 de Janeiro de 2024: Ainda fui a tempo de ver ao vivo a exposição ‘Geppetto’ de João Queiroz na Galeria Miguel Nabinho : paisagens epidermicas, encáusticas em pequena escala, uma escala mais ‘humana’ a contrariar o legado do informalismo e expressionismo abstrato onde a pintura se expandiu monumentalmente, em museus de arte contemporânea que poderiam ser visitados a andar de bicicleta. As paisagens de João Queiroz exigem uma concentração bem diferente no olhar, por serem pequenas pinturas a exigir um tempo e um prazer em observar mais pausado e introspectivo, remetendo para o interior e o mistério que cada paisagem inventada apresenta, que o autor apelidou de ‘brinquedos visuais’. As pinturas provocaram ressonâncias nas minhas paisagens interiores, nas paisagens a habitar a memória, aproximando-se e afastando-se de possíveis referentes devido à ambiguidade expressiva, com um peculiar cromatismo onde se destacam contrastes luminicos, onde a figuração de árvores ou montanhas surgem em metamorfose com outros elementos, vivendo com alguma verosimilhança e imaginação em simultâneo. A forma como foram alinhadas e expostas dentro do espaço da galeria permitem uma visão sequencial, onde se relacionam numa narrativa visual pouco óbvia, permitindo ver e voltar a ver, escolher o tempo de observação de cada pintura num contexto panorâmico. Estamos sobretudo perante um jogo visual entre duas naturezas nestas pinturas: a natureza humana e a natureza natural, tendo em conta que o pintor apresenta paisagens onde a figura humana não é representada. A criação de uma pintura é a criação de um comos no caos, onde a natureza natural é o próprio caos ou habitat dos seres humanos. Não esquecer que enquanto humanos somos também um espelho do que nos rodeia, ou seja, somos natureza humana, e também natureza natural na qual estamos inseridos. João Queiroz construiu paisagens com a imaginação, paisagens interiores e exteriores, em diálogo com o mundo natural onde habita, em pinturas que são rastos da sua presença na natureza, materializando assim paisagens humanas e epidermicas, onde o rasto da sua presença no mundo se funde com a natureza que o rodeia.

Por MJLFernandes

Artista visual e investigadora.

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